terça-feira, outubro 07, 2025

Gaeco ESTOURA OPERAÇÃO em Laranjeiras do Sul e Prende ex comandante da Policia Rodoviaria de Guarapuava


O Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), órgão vinculado ao Ministério Público do Paraná, deflagrou nesta terça-feira (7) duas operações simultâneas que apontam para um complexo esquema de corrupção sistêmica envolvendo agentes da Polícia Rodoviária Estadual (PRE). 

A ofensiva, que contou com a participação dos núcleos de Guarapuava e Ponta Grossa, executou dezenas de mandados de busca, apreensão e prisão em diferentes municípios do estado.

As ações, batizadas de Operação Rota 466 (em sua segunda fase) e Operação Via Pix, concentram-se em suspeitas de extorsão, concussão, corrupção passiva e lavagem de dinheiro praticadas por policiais rodoviários, com indícios de participação de civis e empresas privadas no ocultamento de valores ilícitos.

Primeira fase da Operação Rota 466 (no alto), que chegou a um assessor de vereador na Câmara Municipal de Guarapuava e levou à prisão ex-comandante do Posto da PRE também de Guarapuava, na PR-466 (foto acima)

Na fase mais recente da Operação Rota 466, o Gaeco de Guarapuava, com apoio da Corregedoria da Polícia Militar, cumpriu 11 mandados de busca e apreensão, três mandados de busca pessoal, um mandado de prisão preventiva, além de ordens de bloqueio de contas bancárias e sequestro de bens.

As diligências ocorreram em Guarapuava, Imbituva, Ponta Grossa, Laranjeiras do Sul, Guaraniaçu e Pitanga.

Segundo o MP, a investigação revelou novos elementos envolvendo ao menos três policiais militares que não haviam sido alcançados na primeira fase da operação, dois deles lotados na Polícia Rodoviária Estadual. Todos foram afastados de suas funções operacionais.

As investigações indicam que os agentes extorquiam motoristas flagrados em infrações de trânsito, exigindo pagamentos em dinheiro ou transferências bancárias via Pix para não lavrarem multas ou apreenderem veículos.

Há também indícios de que os mesmos policiais atuavam em conluio com saqueadores de cargas tombadas, prática que se configura como grave violação criminal e administrativa.

''Entre os alvos está um ex-comandante do Posto de Polícia Rodoviária de Guarapuava, anteriormente investigado na primeira fase da operação. Ele foi preso preventivamente após surgirem provas de que recebeu ao menos R$ 47 mil em propinas e tentou interferir no andamento das investigações.''

Via Pix: rastros digitais de um esquema informal, mas eficiente

Paralelamente, a Operação Via Pix, coordenada pelo núcleo do Gaeco em Ponta Grossa, expandiu o raio das investigações para outras regiões do estado. Com base em denúncias de motoristas profissionais, as autoridades identificaram uma rede de extorsão mantida por policiais rodoviários em postos e blitzes das rodovias estaduais, principalmente na região de Piraí do Sul.

Foram cumpridos 19 mandados de busca e apreensão em cidades como Castro, Telêmaco Borba, Jaguariaíva, Arapoti, Wenceslau Braz e Siqueira Campos.

Sete policiais foram afastados das funções e tiveram contas bancárias bloqueadas por ordem da Vara da Auditoria da Justiça Militar Estadual.

De acordo com os promotores responsáveis, os policiais exigiam pagamentos sob ameaças diversas e sem base legal. As cobranças eram feitas diretamente aos motoristas ou caminhoneiros, que transferiam os valores via Pix para contas de terceiros — os chamados "laranjas". A apuração indica que entre dezembro de 2024 e agosto de 2025, o grupo teria movimentado ilegalmente cerca de R$ 140 mil por meio dessas transações.

Mais de 100 motoristas foram identificados como vítimas, muitos dos quais já prestaram depoimento. Os investigadores acreditam que o número de casos pode ser ainda maior.

Conexões dentro do Legislativo e a ampliação do escândalo

As operações também alcançaram o setor público municipal. Jean Carlos Pereira de Campos, na época assessor legislativo na Câmara Municipal de Guarapuava, foi preso em junho durante a primeira fase da Operação Rota 466. Ele foi flagrado portando munições ilegais e teve seu nome vinculado à organização investigada.

A exoneração de Campos foi solicitada pelo vereador Cristóvão da Cruz (Partido NOVO) logo após sua prisão. Ainda não há manifestação oficial por parte da defesa do ex-assessor, e seu grau de envolvimento com os atos ilícitos segue sob apuração.

A presença de Campos em meio aos investigados reforça a hipótese de que o esquema possuía ramificações para além da Polícia Rodoviária, sugerindo um conluio entre agentes públicos de diferentes esferas.

Corrupção institucionalizada e saqueamento de cargas

A atuação dos policiais rodoviários não se restringia às extorsões em estradas. Há indícios sólidos de que parte do grupo também lucrava com acidentes nas rodovias. Em diversas ocorrências de tombamento de cargas, os agentes se associavam a saqueadores — em alguns casos, permitindo ou facilitando o crime. Em episódios mais sofisticados, os produtos saqueados eram "devolvidos" às empresas transportadoras mediante pagamento.

Esses fatos ocorreram, segundo o MP, não apenas em Guarapuava, mas também em municípios como São José dos Pinhais, Prudentópolis, Mauá da Serra, Cascavel, Pinhão, Manoel Ribas e Ponta Grossa. O padrão de atuação se repete, indicando um modelo de corrupção descentralizado, replicado sistematicamente por diferentes núcleos locais.

Resultado parcial: prisões, apreensões e alertas

A ofensiva desta terça-feira resultou em duas prisões – incluindo a do ex-comandante em Guarapuava – e apreensões de armas (algumas com numeração raspada), munições, R$ 37 mil em espécie, veículos e celulares. As autoridades destacam que os valores podem crescer à medida que novas contas bancárias e transações forem analisadas.

As investigações seguem em sigilo, mas com forte respaldo de provas documentais e testemunhais. O Ministério Público pretende formalizar denúncias nas próximas semanas.