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Cacique José Carlos Gabriel é suspeito de integrar quadrilha responsável por desmatamento ilegal em reserva indígena no Paraná — Foto: Reprodução/RPC - Ibama |
As investigações apontam que, desde que o cacique José Carlos Gabriel assumiu o cargo em uma aldeia da etnia Kaingang que fica na reserva indígena de Mangueirinha, na região central do Paraná, o desmatamento na região teve um "crescimento exponencial e criminoso", segundo o Ministério Público Federal (MPF).
O indígena se tornou cacique em 2021 e foi preso nesta quinta-feira (21) pela Polícia Federal (PF), suspeito de integrar uma quadrilha especializada no crime ambiental, formada por indígenas e não-indígenas. Na operação, a PF também prendeu o vice-cacique e outras duas pessoas. Relembre mais abaixo.
"Relatos indicam que o cacique utilizava suas prerrogativas para promover o arrendamento de terras e a exploração ilícita de madeira, cobrando pelo uso de maquinários que deveriam ser de uso comum da comunidade. A extensão do dano ambiental é alarmante. Durante o mandato dele, foram identificados 255 alertas de desmatamento na área, com um laudo pericial da PF revelando um padrão sistemático de exploração florestal irregular e danos à flora", afirma o MPF.
De acordo com o órgão, o principal foco dos suspeitos eram árvores cujas espécies estão ameaçadas de extinção, especialmente araucárias.
As investigações apontam que o transporte da madeira ocorria frequentemente durante a madrugada, para fugir de fiscalizações, e que as negociações envolviam grandes volumes - como um pedido de duas mil tábuas em uma única transação.
"A conivência de parte da liderança indígena com o desmatamento, muitas vezes ignorando as denúncias ou avisando os envolvidos sobre fiscalizações, intensificou o problema. Além disso, houve relatos de ameaças e o fortalecimento de grupos madeireiros através da violência, criando um cenário de instabilidade interna na comunidade", afirma o MPF.
O Ministério Público Federal também divulgou que o grupo criminoso operava de forma estruturada, com divisão de tarefas que incluíam desde a coordenação e execução do corte, até a logística de transporte e a recepção da madeira ilícita.
Para os promotores e os policiais federais, o cacique e o vice-cacique eram "peças-chave" no esquema, e se beneficiavam econômica e politicamente da prática ilegal.
Eles estão sendo investigados pelos crimes de organização criminosa, furto qualificado, receptação qualificada e crimes ambientais, com penas que podem ultrapassar 20 anos de reclusão.
Em nota, a advogada Franciele Fagundes Brandoli Kelin, que atua na defesa do cacique, do vice-cacique e de outro detido nesta quinta (21), alega que eles são inocentes. A advogada afirma que, como a investigação ainda está em andamento e não foi concluída, "não se pode, em hipótese alguma, atribuir culpa ou responsabilidade definitiva a quaisquer dos investigados neste momento".
Terra indígena de Mangueirinha
A terra indígena de Mangueirinha fica no bioma Mata Atlântica e é considerada a maior reserva de araucárias do Brasil e uma das maiores e últimas do mundo. Ela também abriga outras espécies vegetais ameaçadas de extinção, como angico, cedro e xaxim.
A região possui cerca de 17 mil hectares, entre as cidades de Chopinzinho, Coronel Vivida e Mangueirinha e abriga aproximadamente 780 famílias das etnias Kaingang e Guarani, o que totaliza mais de três mil indígenas, em 8 aldeias.
O MPF explica que em terras indígenas, a madeira é considerada propriedade coletiva, e seu corte é proibido individualmente, dependendo de decisão conjunta da liderança e autorização prévia do Ibama.
Ações criminosas relacionadas a desmatamento no local vêm sendo alvo de investigações da PF e do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) há pelo menos dois anos.
José Carlos Gabriel, cacique de uma das aldeias da região, e o vice-cacique dele, Cristian Ricardo Carneiro, foram presos nesta quinta-feira (21) pela Polícia Federal (PF).
Foram expedidos 17 mandados judiciais em Mangueirinha e outras cidades da região, sendo cinco de prisão preventiva e os outros de busca e apreensão e de quebra de sigilo bancário.
Um dos alvos não foi encontrado e passou a ser considerado foragido.
Agora, a PF busca identificar quem eram os compradores da madeira extraída ilegalmente da área.