quinta-feira, julho 17, 2025

Uma das maiores exportadoras do setor madeireiro do interior do Paraná, Millpar de GUARAPUAVA colocou todos os funcionários em férias coletivas

“Efeito Trump” sobre a Millpar põe cadeia produtiva da madeira em alerta, em Guarapuava...


A imposição de novas tarifas sobre produtos brasileiros pelo presidente dos Estados Unidos, Donaldo Trump, da ordem de 50% e projetada para início de agosto, começa a ter efeitos diretos sobre a economia de Guarapuava. A primeira grande medida veio da Millpar, uma das principais exportadora do setor madeireiro do município, que decretou férias coletivas para todos os seus funcionários por um período inicial de 15 dias, com início nesta segunda-feira (14).

Com cerca de 93% da produção voltada exclusivamente ao mercado norte-americano, a Millpar atua como termômetro para todo o segmento local, e sua paralisação acende um alerta sobre a vulnerabilidade da economia guarapuavana à conjuntura internacional. Segundo estimativas, o setor madeireiro representa aproximadamente 20% do PIB municipal e emprega cerca de 5 mil pessoas com carteira assinada, respondendo por três a cada quatro empregos industriais formais da cidade.


Embora o tema não seja discutido abertamente pelas entidades de classe, mesmo diante da gravidade e das especulações que a situação gera por falta de um debate mais transparente, pois se trata de economia popular, a situação é preocupante. A dependência quase absoluta dos Estados Unidos como destino final da produção está exposta, e se outras empresas seguirem o mesmo caminho da Millpar, o impacto sobre a economia regional pode ser imediato e profundo.

A força econômica do setor madeireiro em Guarapuava não é novidade.

Segundo levantamento recente, o município produziu 908 mil metros cúbicos de madeira, gerando uma receita de R$ 109 milhões apenas com a silvicultura.

O volume exportado em produtos derivados somou mais de US$ 66 milhões no primeiro semestre de 2024, sendo dois terços desse valor destinados exclusivamente aos EUA.

Além da Millpar, empresas como Repinho e a Carli Plac Compensados, também têm atuação internacional destacada, ainda que com maior diversificação de mercados — especialmente na exportação de compensados e MDF para países da Europa Ocidental e do Leste, como Alemanha, Bélgica, Itália e República Tcheca. No entanto, a maior parte da madeira serrada, molduras e painéis produzida na região ainda segue embarcada para portos norte-americanos.

Neste momento, a Repinho investe uma soma milionária na construção de uma unidade fabril especializada em MDP, painel utilizado em móveis e fabricado com partículas de madeira prensadas e coladas. As informações indicam que será a maior fábrica do setor da América Latina, às margens da PR-466.

A medida anunciada por Trump, que eleva as tarifas de importação para até 50% em diversos produtos brasileiros, atinge em cheio as cadeias de valor mais presentes em Guarapuava. Ainda que o Ministério da Fazenda considere o impacto macroeconômico da medida como “limitado” para o Brasil, os efeitos no plano regional são mais severos.

Para Guarapuava, o risco é sistêmico. Se outras exportadoras forem atingidas, haverá queda na atividade econômica, aumento do desemprego industrial e, como consequência, retração no comércio e nos serviços da cidade. O CEO da Millpar, Ettore Giacomet Basile, aventou a possibilidade, em nota direcionada aos funcionários, de as férias serem estendidas por mais dias, caso as negociações com os Estados Unidos não prosperem.

Efeito dominó

A exemplo de outros setores, como o do suco de laranja, que também depende do mercado dos EUA, existe temor de que cargas já contratadas sejam renegociadas ou canceladas por clientes norte-americanos, diante da perda de competitividade gerada pelo aumento das tarifas. Pequenas e médias madeireiras – muitas das quais operam em regime terceirizado com grandes exportadoras – também poderão ser atingidas indiretamente pela desaceleração das encomendas.

Outro vetor de preocupação são os impactos sobre a receita municipal e o emprego formal, já que a arrecadação de tributos sobre exportações e a massa salarial da indústria florestal são fundamentais para a sustentação da economia local. O comércio e o setor de serviços – que juntos respondem por mais de 60% da atividade econômica de Guarapuava – também sentem os reflexos quando há retração da indústria.