quarta-feira, março 19, 2025

Embrapa clona araucária de cerca de 700 anos que tombou durante temporal na região de Guarapuava

Equipe da Embrapa Florestas (PR) conseguiu clonar uma araucária (Araucaria angustifolia) de cerca de 700 anos que tombou durante um temporal no Paraná (VEJA AQUI SOBRE A QUEDA), um feito inédito na pesquisa florestal brasileira. A árvore, com 42 metros de altura, era considerada a maior do estado da espécie, que é um símbolo da paisagem local. O projeto de resgate genético resultou em mudas clonadas que foram plantadas em Cruz Machado, cidade onde a árvore original estava.

A clonagem de uma planta tão antiga apresentou grandes desafios, pois a regenerabilidade de tecidos de árvores idosas é reduzida. No entanto, o pesquisador conseguiu produzir quatro mudas de tronco, preservando o DNA da árvore original. "Resgatar uma araucária tão antiga e cloná-la com sucesso é uma conquista científica", comemora o pesquisador da Embrapa Ivar Wendling.

Por serem originárias de tecidos adultos, as mudas clonadas irão originar árvores de porte menor mas que começam a produzir pinhão mais cedo do que uma árvore convencional, o que pode beneficiar produtores rurais interessados no uso sustentável da espécie. O pinhão, além de ser um alimento tradicional, tem valor comercial crescente e pode representar uma fonte de renda adicional para agricultores.

No entanto, Wendling alerta que as mudas ainda são delicadas e requerem cuidados especiais nos primeiros anos de desenvolvimento, incluindo irrigação e controle de competidores naturais. "A árvore original sobreviveu por séculos, mas essas mudas precisam de atenção para que possam crescer saudáveis e continuar esse legado", explica.

A CLONAGEM

A técnica usada para esta clonagem foi a enxertia, que consiste em unir um fragmento da planta original a uma muda jovem. No caso da araucária clonada, logo que a árvore caiu foram coletados brotos (foto á direita), que foram então enxertados em mudas já estabelecidas, garantindo que o novo indivíduo possua o mesmo material genético da planta original. Esse processo permite a regeneração da árvore a partir de suas próprias células, mantendo características como resistência e produtividade.

O enxerto pode ser feito a partir de brotos do tronco ou do galho da árvore, resultando em diferentes formatos de plantas. As mudas de tronco tendem a crescer como árvores convencionais, enquanto as de galho originam as chamadas "mini araucárias". Os dois tipos produzem pinhões mais precocemente. Após a enxertia, as mudas passam por um período de crescimento antes do plantio definitivo em campo.

No caso de árvores idosas, a clonagem é mais difícil devido à baixa capacidade de regeneração dos tecidos mais velhos. Com o passar dos anos, as células das plantas, reduzem sua taxa de multiplicação e perdem parte de sua capacidade de originar novos indivíduos.

Além disso, árvores muito antigas possuem um sistema hormonal diferente do de plantas jovens, o que pode dificultar o crescimento dos enxertos e reduzir o sucesso da clonagem. No caso desta araucária, com idade estimada em cerca de 700 anos, o pesquisador da Embrapa precisou realizar experimentos para identificar as condições ideais de cultivo das mudas clonadas. O sucesso do procedimento representa um avanço na tecnologia florestal, abrindo caminho para a conservação genética de outras árvores centenárias.