segunda-feira, março 21, 2022

Substâncias cancerígenas na água de 11 municípios do Sudoeste

Por Niomar Pereira – O Mapa da Água, elaborado pela ONG Repórter Brasil, revela resultados preocupantes sobre a qualidade da água consumida no Brasil. Testes feitos na água tratada detectaram substâncias químicas e radioativas que podem oferecer risco à saúde. A organização já havia elaborado o Mapa dos Agrotóxicos na Água em 2019 e, desta vez, fez um novo levantamento inédito, com os dados de controle do Sistema de Informação de Vigilância da Qualidade da Água para Consumo Humano, o Sisagua, do Ministério da Saúde.

Segundo o levantamento, em 763 cidades, entre 2018 e 2020, haviam substâncias químicas acima do limite permitido. Na região Sudoeste do Paraná, 11 municípios (veja no mapa), sendo que em sete deles houve presença de “substâncias com os maiores riscos de gerar doenças crônicas, como câncer”, que têm maior evidência de risco à saúde. Elas são listadas como “reconhecidamente” ou “provavelmente” cancerígenas, disruptoras endócrinas (que desencadeiam problemas hormonais) ou causadoras de mutação genética.

Outras quatro cidades ficaram dentro de um segundo grupo, das “substâncias que geram riscos à saúde”, que reúne todas as outras que também oferecem risco, segundo a literatura internacional e o Ministério da Saúde. Entre elas estão as “possivelmente” cancerígenas”, além das que podem causar doenças renais, cardíacas, respiratórias e alteração no sistema nervoso central e periférico.

Segundo a Repórter Brasil, cada país define o seu limite de segurança para a concentração máxima permitida de cada substância na água. É esse o controle que define a potabilidade da água. As amostras que contém substâncias fora deste padrão são consideradas impróprias para o consumo, da mesma forma como um alimento pode estar fora da validade ou fora dos padrões sanitários.

Os riscos são maiores devido à presença de substâncias químicas e radioativas que podem gerar doenças crônicas, como câncer e problemas endócrinos. A lei brasileira determina que os fornecedores são responsáveis por testar a água e por apresentar os resultados à autoridade de saúde local, o que na prática se dá por meio do registro desses dados no Sisagua.

As informações podem ser consultadas por cidade no Mapa da Água, que destaca quais substâncias extrapolaram o limite e explica seus riscos. Com impacto silencioso, esses produtos têm dinâmica diferente das contaminações por bactérias, que provocam dor de barriga, diarreia e até surtos de cólera.

Os sintomas das substâncias químicas e radioativas podem levar anos, mas, quando aparecem, são na forma de doenças graves. Estudos que associam esses produtos ao câncer, mutações genéticas e diversos outros problemas de saúde são carimbados pelos mais respeitados órgãos de saúde, como a Organização Mundial da Saúde (OMS) e as agências regulatórias da União Europeia, Estados Unidos, Canadá e Austrália.

Preocupação

O prefeito Paulo Horn, de Sulina, onde foi detectada uma substância com os maiores riscos de gerar doenças crônicas, como câncer, acima do limite de segurança e uma outra que também gera riscos à saúde, disse que desconhecia esse problema e garantiu que irá pedir explicações à Sanepar. A reportagem também entrou em contato com outros prefeitos de municípios que aparecem no Mapa da Água com nível de alerta máximo, que preferiram não se manifestar e ou não responderam até o fechamento desta matéria.

Danos à saúde

Daniel Rech, médico oncologista do Ceonc, Francisco Beltrão, e docente do curso de Medicina da Unioeste, diz que existe sim o risco deste tipo de substância causar danos à saúde da população, e que a universidade pública vem desenvolvendo algumas pesquisas que tentam comprovar essa evidência. “Temos pesquisas, sim. Algumas levam a essa conclusão. Nossa preocupação é que, em nome do desenvolvimento, podemos estar contaminando a água que bebemos e quando alguém levanta essa questão logo é crucificado. Há um filme, chamado Dark Water, que descreve os efeitos de um produto de uma grande empresa no ambiente e nas pessoas. A realidade atual me parece semelhante, estamos fazendo algo equivocado e certamente vamos sofrer as consequências.”