sexta-feira, abril 09, 2021

Médicos pedem lockdown no Brasil

O Brasil chegou à marca de cerca de 350 mil mortos por covid-19, em meio ao pior momento da pandemia, caos hospitalar e recordes de mortes, que já ultrapassaram as quatro mil em apenas um dia. Diante do cenário, o principal epidemiologista dos Estados Unidos, Anthony Fauci, fez um alerta afirmando o que especialistas brasileiros dizem há semanas: um lockdown nacional deve ser considerado seriamente.

Apesar da recomendação para o endurecimento das medidas de restrição social, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) segue afirmando que não fará nenhuma medida do tipo a nível federal e critica governadores e prefeitos que tentam mitigar a pandemia através desses meios. Para o médico sanitarista Gonzalo Vecina Neto, professor da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) e um dos fundadores da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), o especialista norte-americano está correto em sua avaliação.

“Tenho plena concordância com o doutor Fauci, ele está correto ao propor que este momento, enquanto nós esperamos as vacinas, é um momento precioso que nós não podemos perder de vista. Temos que conseguir fazer o possível para que as medidas de afastamento e isolamento social ocorram para diminuir o número de casos, nós temos um número explosivo de casos e esse número terá consequências terríveis”, avalia o sanitarista em entrevista à agência de notícias Sputnik Brasil, que alerta ainda que em até três meses o país pode alcançar o número de 500 mil mortos.

O médico epidemiologista César Victora, professor da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), concorda com Vecina e lembra que o fechamento rígido gerou resultados positivos em outros países.
“Eu não tenho nenhuma dúvida de que o lockdown rígido de duas, três, até quatro semanas é essencial para controlar a pandemia no Brasil. Países sérios, europeus, por exemplo, fizeram isso e tiveram grande sucesso em controlar a curva epidêmica – que nunca foi tão ruim quanto no Brasil. Nós estamos com UTIs lotadas na grande maioria dos estados, nós estamos com quatro mil mortes por dia e é incompreensível porque nossos governantes ainda hesitam em manter um lockdown rigoroso”, afirma.

Da mesma forma, Gonzalo Vecina reforça que o lockdown é a “única alternativa para diminuir a velocidade do crescimento de casos e mortes”. Segundo ele, a medida pode assumir características particulares no Brasil, tendo vista que o país enfrenta dificuldades com restrições sociais.

“Então pode ser até uma coisa um pouco mais meia boca, mas nós temos visto que isso dá resultado. Agora quando se fala em lockdown a gente pensa em ficar em casa, mas lockdown não é só ficar em casa”, aponta o médico, ressaltando que a medida envolve um amplo projeto.