Em depoimento, ainda com sigilo mantido pela Justiça, o veterinário Flavio Cassou, apontado como “homem da JBS na Operação Carne Fraca”, teria confessado na última sexta-feira pagamentos de propina a fiscais do Ministério da Agricultura, por ordem expressa da Matriz da empresa de Joesley Batista.
No relato de quatro horas, o veterinário disse que parte da propina também teria sido destinada a políticos do PMDB do Paraná. Por enquanto, o depoimento de Flavio Cassou ficará em sigilo até que seja homologada a delação premiada do ex-superintendente do Ministério da Agricultura no Paraná, Daniel Gonçalves Filho, apontado como líder no esquema de corrupção investigado na Operação Carne Fraca.
De acordo com uma fonte da BandNews FM na investigação, Cassou confirmou na audiência o pagamento mensal aos fiscais que atuavam nas empresas; e detalhou o esquema de pagamento mensal direto ao superintendente Daniel Gonçalves Filho, que ocupou o cargo entre 2007 e 2016 no Ministério da Agricultura. Esse valor, pago a Gonçalves Filho, era maior e tinha como destinatário políticos do PMDB responsáveis pela indicação do superintendente em Brasília.
O deputado federal paranaense Osmar Serraglio, do PMDB do Paraná, já confirmou ter sido um dos responsáveis pela indicação de Gonçalves ao cargo. Ele também aparece em grampos da investigação da Operação Carne Fraca. O grampo flagrou uma ligação telefônica entre Serráglio e Gonçalves Filho em fevereiro do ano passado. Serraglio ligou para o superintendente para tirar satisfações sobre a atuação de um fiscal no Frigorífico Larissa, de Iporã, no Paraná.
O deputado se referiu ao fiscal como “grande chefe”. Em seguida, o então superintendente do Mapa ligou para a chefe da fiscalização na região para que ela averiguasse a situação. Após a divulgação da gravação, o Ministério Público Federal apontou que o fato por si não dava indícios suficientes que apontem o cometimento de crime.
O interrogatório do veterinário da JBS, que apresentou mais informações à investigação, aconteceu na sexta-feira, mas ficará em sigilo por pedido da defesa e do Ministério Público Federal. O conteúdo deve ser divulgado quando for homologada a delação de Daniel Gonçalves Filho.
Por envolver políticos com foro privilegiado, esse acordo foi para Procuradoria-Geral da República, que produziu um relatório e encaminhou ao Supremo Tribunal Federal. O ministro Dias Toffolli é o responsável pela homologação da delação de Gonçalves Filho. A defesa do veterinário Flavio Cassou reforçou o pedido de sigilo do depoimento dele para confrontar com as informações prestadas por Daniel Gouveia.
Além da confissão do veterinário, o processo conta com a agenda dele, apreendida pela Polícia Federal em março. A agenda teria registros de um esquema criminoso organizado. Segundo as denúncias da Operação Carne Fraca, os fiscais recebiam propinas e alimentos.
Em troca, eles assinavam todos os certificados sem fazer verificação alguma nas empresas. A operação Carne Fraca está no fim da fase dos depoimentos de testemunhas. Até o dia 19 de dezembro todas devem ter sido ouvidas. Ao todo são 60 réus nas seis ações penais instauradas.
Até agora, nas seis ações somadas foram indicadas 630 testemunhas, além dos 60 interrogatórios dos réus. A partir do dia 19, o processo caminha para a reta final. Podem ser feitas diligências complementares se necessário, além das alegações finais, e, por fim, as sentenças do juiz Marcos Josegrei as Silva, da 14ª Vara Federal de Curitiba. Paralelamente, novas ações podem surgir no Supremo Tribunal Federal na medida em que o processo envolva políticos com mandato.
A Operação Carne Fraca mantém atualmente oito presos preventivos desde o dia 17 de março. São fiscais, donos de frigoríficos, além de Flávio Cassou, que é veterinário e ex-gerente da JBS/Seara, na unidade da Lapa, na região metropolitana de Curitiba.
Ainda estão presos Daniel Gonçalves, ex-superintendente do Mapa; Maria do Rocio, ex-chefe do Serviço de Inspeção de Produtos Animais no Paraná; Juarez José Ide Santana, chefe do Mapa em Londrina; Idair Peccin, dono do frigorífico Peccin; Paulo Rogério Sposito, dono do frigorífico Larissa; e os fiscais Luiz Carlos Zanon Junior e Eraldo Cavalcanti Sobrinho. Os frigoríficos Peccin e Larissa permanecem interditados. Após a operação, em março, uma fiscalização extraordinária do Mapa constatou a inobservância dos parâmetros necessários previstos em regulamentação.
Com Band News
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