segunda-feira, junho 15, 2020

Como está a safra de Pinhão no Paraná

Frio chegando e uma das tradições mais típicas do Paraná, nesta época do ano, principalmente de quem vive na região centro sul, é o consumo de pinhão. As matas de araucárias no estado já cobriram 40% do território paranaense. Hoje, sobraram menos de 3%, mas ainda é difícil encontrar um morador do estado que não seja fã de um pinhão cozido ou tostado na chapa de um fogão à lenha.

As araucárias se desenvolveram bem no Paraná por causa do clima, como explica a engenheira agrônoma Eliza Gralak.

"Ela precisa de regiões frias, com frequentes geadas, no período do inverno, e precipitação pluviométrica distribuída durante o ano, que também é uma condição que nós temos aqui na nossa região. Um dos fatores que também ajudam é o vento. A araucária tem árvores femininas e masculinas. Pra ter a produção da pinha, precisa ter a polinização e o vento ajuda a levar o pólen da árvore macho para a árvore fêmea", explicou.

A engenheira diz ainda que as araucárias podem chegar a 50 metros de altura e a ter até dois metros e meio de diâmetro, mas pra atingir este porte, são necessários muitos anos.

"De 200 anos pra cima. A maioria das árvores grandes que temos nas matas são centenárias, algumas com mais de duzentos anos", disse.

Para calcular a idade de uma árvore, os pesquisadores usam uma técnica curiosa. Quando as árvores tombam, eles contam os anéis que se formam no interior do tronco. Cada anel corresponde a um ano, aproximadamente.

Ameaçadas de extinção, as araucárias são protegidas por lei e o corte só é liberado em situações muito particulares. Apesar disso, o manejo e a exploração dos pinhões são permitidos.

"Pra fazer a retirada da árvore, ela precisa ser reflorestada e ainda deve ter uma licença de um órgão estadual e tem também o limite de uma certa metragem por ano. Agora, o produtor não pode fazer a retirada das árvores nativas para o uso da madeira, por exemplo, mas tem outra situação que é muito melhor, que é justamente a exploração do pinhão, contou Eliza.

No Paraná, a atividade ocorre principalmente na região centro-sul, que concentra o maior número de araucárias no estado.

Um conjunto de dez municípios produzem 37% do pinhão paranaense. Na safra do ano passado, foram colhidas mais de quatro mil toneladas da semente.

No sítio Nossa Senhora Aparecida, que fica em Guarapuava, na região central, há pinheiros com mais de 40 anos. Alguns já estavam na propriedade quando o agricultor Dirceu Francisco Taques comprou a área, mas há os que foram plantados por ele. O agricultor diz que este ano está colhendo bem.

"Nos vizinhos, não tem pinhão, mas na minha área deu muito bem. Eu tenho pinheiro aqui que dá mais de cem quilos de pinhão", disse.

A situação não é a mesma para boa parte dos produtores da região. A safra deste ano está menor. No sítio da família Malinoski, Élcio, que é filho do proprietário, trabalha na lida com os pinhões há 10 anos. Para colher as sementes, ele escala as araucárias. "Se esperar o pinhão cair sozinho, como aqui é mata, os animais vêm e comem tudo", contou.

A quantidade de pinhas depende de pinheiro pra pinheiro. Quando o ano é bom, uma araucária pode produzir de 50 a 60 pinhas, mas há pinheiros que chegam a produzir até 200 pinhas.

O engenheiro agrônomo e técnico do Departamento de Economia Rural do Paraná, Dirlei Manfio, explica que a estiagem pode ter influenciado para uma safra menor.

"Nós temos um ano atípico. Nós tivemos um ano com poucas chuvas, desde junho do ano passado, resultando numa das piores estiagens do estado do Paraná. O pinhão também tem uma sazonalidade. Normalmente um ano dá bem e outro, não".

Em relação aos preços, o produtores dizem que está bom. O quilo do pinhão tem sido vendido por eles, em média, a 5 reais. Quem compra, revende no Paraná e também leva pra outros estados.