Se os contratos originais da Concessionária Caminhos do Paraná tivessem sido executados normalmente, o trecho da BR 277, na Serra da Esperança, deveria estar duplicada a oito anos.
De acordo com o Ministério Público Federal (MPF), que investiga os contratos com as empresas, as mudanças feitas fazem parte de um esquema milionário de pagamento de propina.
Dois mil e quinhentos quilômetros de estradas federais foram entregues em regime de concessão pelo Governo do Paraná para seis empresas privadas em 1997. Os contratos valem até 2021. À época da assinatura, a promessa era ter estradas de primeiro mundo.
"Imagine um estado onde as suas principais estradas estarão todas duplicadas e todas realmente prontas para operar um grande processo de mudança no desenvolvimento do nosso estado", disse, em 1995, o então governador Jaime Lerner em entrevista.
Os procuradores dizem que o que de fato foi feito não passa de 300 quilômetros - mesmo com os valores de pedágio subindo quase todo ano.
"O que se viu nesses anos todos é a completa ausência de amparo técnico para essas modificações, o que chamou a atenção lá no início. E, ao final da investigação, se concluiu que essas modificações se amparavam em pagamento de vantagens indevidas", afirmou o procurador da República, Diogo Castor.
Em todas as partes do estado, há trechos em que a falta de obras compromete a segurança e atrapalha a vida de quem circula pelas rodovias.
ECOCATARATAS
A Ecocataratas cuida da BR-277, entre Foz do Iguaçu, no oeste do Paraná, e Guarapuava, na região central. Pelo contrato original, a concessionária deveria duplicar a estrada entre Santa Terezinha de Itaipu e Cascavel, no oeste; mais um trecho em Guarapuava; além de construir três contornos.
Ao todo, 180 quilômetros de obra. Depois dos aditivos, os contornos desapareceram e ficaram 67,4 quilômetros de duplicação.
A duplicação da BR-277 que passaria Céu Azul, no oeste, saiu do contrato, mas o pedágio da Ecocataratas ficou. Esse é um dos principais caminhos para Foz do Iguaçu.
Além de movimentada, a rodovia também é perigosa. Em dezembro de 2017, cinco pessoas que estavam numa Kombi morreram. A batida foi de frente contra uma caminhonete.
Pelo contrato original, a duplicação seria entregue pela Ecocataratas em 2004 - 13 anos antes do acidente.
"Em um primeiro momento, é raiva. Porque a minha vida poderia continuar igual. Poderia estar casada, não estaria viúva. E a segunda é indignação, de saber que isso poderia ter sido evitado", lamentou a sobrevivente Besna Yacovenco.
Em Matelândia, ainda na BR-277, a duplicação de um trecho de 14,37 quilômetros saiu do papel, mas depois de idas e vindas e de um acidente grave com mortes.
A duplicação estava prevista no contrato original. Mas, conforme o MPF, a duplicação acabou sendo retirada do documento em 2005, quando a obra já deveria estar pronta.