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Sem dinheiro para o funeral, família tinha cavado túmulo de Ender Bracho, de 39 anos, no quintal de casa em Maracaibo Foto: GERARD TORRES / AFP |
Afetada por uma crise econômica que elevou os índices de desnutrição e mortalidade infantil, a Venezuela agora enfrenta a tragédia dos que não conseguem pagar pelo enterro de seus parentes, muitos deles vítimas da falta de medicamentos e atenção de saúde básica.
Após buscar, em vão, ajuda estatal, a família de Ender Bracho abriu um buraco para sepultá-lo no quintal, na cidade petrolífera de Maracaibo. Fazia mais de 24 horas que ele tinha morrido por infecção generalizada que, segundo alegam seus parentes, foi desencadeada por falta de antibióticos.
Antes de morrer, o pedreiro de 39 anos já parecia um cadáver, com as costelas marcadas e o rosto afundado. “Onde está o governo para ajudar os pobres? O que eles estão fazendo é nos destruir!”, lamentava Milagros, sobrinha de Bracho.
Envolto numa coberta, o homem passou algumas horas na cova. A mãe dele, Gladys, jogou um pouco de terra antes de o governo de Zulia, Estado em que fica Maracaibo, decidir entregar um caixão e providenciar uma sepultura. Temendo uma epidemia, vizinhos não queriam que o corpo ficasse ali. “Eles (a família) foram ameaçados. Diziam que se algo acontecesse a seus filhos, matariam a família”, contou uma testemunha.
Na mesma cidade no oeste da Venezuela, Wenceslao Álvares, de 78 anos, jazia em uma cama porque a família também não tinha dinheiro para enterrá-lo. A agonia dele acabou no dia 4, em um bairro humilde de Maracaibo. A dor recaiu sobre sua filha Lisandra, que procurou ajuda para sepultá-lo. Sem respostas, a mulher viu como seu pai definhava. Wenceslao, que ficara inválido havia um ano em razão de uma embolia, teve varicela e passou cinco meses sem remédios.
“O corpo estava se decompondo e a casa ficou com um cheiro péssimo, não havia como limpá-la”, disse Lisandra, uma lavadeira de 43 anos. Três dias depois, um município vizinho doou a ela um caixão e uma cova. “Nós colocamos três sacos de cal na urna e um em cima, para aplacar o cheiro”, disse Lisandra. Há um ano, ela vendeu o refrigerador para enterrar sua mãe. Em 2014, seu filho policial morreu baleado.