segunda-feira, junho 16, 2025

Hemocentro de Guarapuava reforça importância da doação regular de sangue para salvar vidas e manter estoques

 A vida, por vezes, nos apresenta desafios que exigem mais do que força individual, pedem solidariedade. Imagine a angústia de uma família à espera de uma transfusão que pode reverter um quadro crítico, ou a esperança de um paciente oncológico que precisa de plaquetas para continuar seu tratamento. Para o guarapuavano Cleverson Silvestri, 42 anos, essa realidade se traduz em um gesto simples, mas de impacto imensurável: a doação de sangue.

Há mais de 10 anos, ele se dedica a esse ato de amor, motivado por uma tia que sempre ressaltou a importância de ajudar o próximo. “Doar sangue é um pequeno gesto para quem doa, mas um gesto enorme para quem recebe”, compartilha. A dedicação de Cleverson é ainda mais significativa por possuir o tipo sanguíneo O negativo, o doador universal, cujo sangue pode ser utilizado por qualquer pessoa. Cleverson faz questão de ir ao Hemocentro de Guarapuava a cada quatro meses, garantindo que os estoques estejam sempre prontos para salvar vidas.

A história de Cleverson é um reflexo do que acontece diariamente nos hemocentros do Brasil. O Dia Mundial do Doador de Sangue, celebrado em 14 de junho, serve para homenagear esses heróis anônimos e conscientizar a população sobre a importância vital desse gesto. No Paraná, o Hemepar (Centro de Hematologia e Hemoterapia do Paraná) é a espinha dorsal dessa rede de solidariedade. De janeiro a junho de 2023, o estado registrou uma média de 16.035 doações mensais. O Hemepar, com suas 23 unidades, abastece 384 instituições de saúde. Em Guarapuava, a dedicação é notável: entre janeiro de 2024 e maio de 2025, o Hemepar local recebeu 8.916 candidatos à doação, resultando na coleta de 8.196 bolsas de sangue. Nesse período, 317 candidatos foram considerados inaptos.

Para que a doação seja segura tanto para o doador quanto para o receptor, existem critérios rigorosos. Homens podem doar a cada dois meses, totalizando um máximo de quatro doações em 12 meses. Mulheres podem doar a cada três meses, realizando até três doações anuais.

Entretanto, há situações que exigem um adiamento temporário da doação por questões de segurança, tanto para o doador quanto para o receptor:

- Gripe ou resfriado: Espere sete dias após o desaparecimento dos sintomas. O mesmo prazo se aplica a episódios de diarreia.

- Gestantes: A doação só é permitida 90 dias após o parto normal ou 180 dias após uma cesariana.

- Amamentação: A doação deve ser suspensa se o parto ocorreu há menos de 12 meses.

Outros procedimentos e hábitos também impactam o tempo de espera:

- Após ingestão de bebida alcoólica: Espere 12 horas.

- Após tatuagem: Espere seis meses.

- Piercing: Espere 12 meses (principalmente se colocado na boca ou genitais).

- Aplicação de botox: Espere 15 dias.

- Tratamentos odontológicos: De um a sete dias, conforme o caso.

- Exames como endoscopia e colonoscopia: Exigem seis meses de espera.

Algumas condições de saúde inviabilizam a doação de forma permanente. É o caso de pessoas que tiveram hepatite viral após os 10 anos de idade, diabéticos em uso de insulina, indivíduos com histórico de epilepsia ou convulsões, hanseníase, doenças renais crônicas e alguns tipos de câncer (com exceção do câncer de pele do tipo basocelular ou do colo do útero, desde que tratados e curados). Também não podem doar pessoas que sofreram acidente vascular cerebral (AVC), que usam drogas injetáveis ou que testaram positivo para doenças transmissíveis pelo sangue, como hepatites B e C, HIV/AIDS, sífilis, doença de Chagas e infecções por HTLV I/II.

No dia da doação, o candidato passa por uma avaliação clínica. Além do serviço de coleta de sangue, o Hemepar também oferece atendimento ambulatorial a pacientes com doenças hematológicas, como hemofilia (distúrbio hereditário que afeta a coagulação), talassemia (doença crônica caracterizada pela produção inadequada de hemoglobina), doença de Von Willebrand (que também interfere na coagulação) e pacientes que realizam sangria terapêutica, um procedimento indicado para doenças nas quais há excesso de glóbulos vermelhos.

Durante uma doação, são coletados aproximadamente 450 ml de sangue e quatro tubos para exames laboratoriais, que verificam a presença de doenças que possam impedir o uso da bolsa. Os resultados ficam prontos em até 48 horas. Após esse período, o sangue é separado em componentes:

- Concentrado de Hemácias (CH): Responsável pelo transporte de oxigênio.

- Concentrado de Plaquetas (CP): Essencial para a coagulação sanguínea.

- Plasma Fresco Congelado (PFC): Rico em proteínas e fatores de coagulação.

- Crioprecipitado (CRIO): Utilizado em casos de deficiência de fatores de coagulação específicos.

É essa separação que permite que uma única doação de sangue possa beneficiar até quatro pessoas, daí o poderoso lema “Doação de sangue: Um ato que vale por quatro”.

Existem quatro tipos sanguíneos principais: A, B, AB e O. Cada um pode ser Rh positivo (quando há presença de antígenos Rh nos glóbulos vermelhos) ou Rh negativo (quando esses antígenos estão ausentes). A compatibilidade entre os tipos e o fator Rh é essencial em transfusões de sangue.

Além dessas variações, existe um tipo conhecido como Rh nulo (ou Rhesus null), o chamado “sangue dourado”. Esse tipo sanguíneo raro tem esse nome porque se diferencia dos demais pela ausência total de todos os antígenos do sistema Rh. Em 2016, a Coordenação-Geral de Sangue e Hemoderivados do Ministério da Saúde (CGSH/MS) instituiu o Cadastro Nacional de Sangue Raro (CNSR), um banco de dados que centraliza as informações sobre doadores com fenótipos raros. Estima-se que menos de 50 pessoas no mundo possuem o “sangue dourado”, e duas delas estariam no Brasil, segundo dados do CNSR divulgados pelo Governo do Estado do Espírito Santo.

Para Cleverson, a doação é um ato que “transcende o entendimento humano”. É um compromisso que ele renova a cada quatro meses, sabendo que seu simples gesto tem o poder de manter a chama da esperança acesa para inúmeras vidas. Que tal você também se juntar a essa corrente do bem?