O anúncio de desalojamento de 54 famílias residentes na faixa de domínio da PR-466 expõe uma contradição dolorosa no modelo de desenvolvimento que ainda vigora no Brasil.
Destas famílias, 28 vivem no distrito de
Palmeirinha, em Guarapuava, muitas ali estabelecidas desde a década de
1970 e pagando IPTU regularmente. Situação que revela não apenas uma
relação de pertencimento, mas também a própria omissão do poder público
ao permitir, por décadas, a consolidação dessas moradias sem resolver a
situação fundiária.
A notificação inicial previa um prazo de
apenas 30 dias para a saída. Após reunião com o DER, deputados e
moradores nesta sexta (5), o prazo foi ampliado para 49 dias. Mas a
ampliação é meramente paliativa diante da realidade de famílias de baixa
renda, que precisam não apenas desocupar a área, mas também encontrar
outro teto em meio ao mercado imobiliário restrito e caro. Segundo a
deputada estadual Cristina Silvestri, que acompanha o caso, “esse prazo é
inadmissível. Como famílias de baixa renda vão sair da casa, alugar
outra moradia? É um tempo muito curto”.
A ausência de previsão de
indenização agrava o cenário, negando direitos básicos em nome de uma
lógica puramente técnica de desapropriação e segurança viária. A
duplicação da rodovia é, sem dúvida, essencial para o desenvolvimento da
região e para a segurança de milhares de motoristas. Há anos, a PR-466 é
palco de acidentes fatais, e a obra atende a uma demanda histórica. Mas
isso não justifica a negligência social.